domingo, 13 de agosto de 2017

Sobre saquinhos de pipoca. E pessoas.

Dia desses recebi na minha timeline a informação de que uma mãe solicitara a retirada do pipoqueiro da frente da escola, porque seu menino não podia comer mais a guloseima e ela não sabia dizer não...Então o problema deveria ser solucionado com o fim das pipocas para as demais crianças. Corta para o dia dos pais. Tenho acompanhado ao longo do tempo os crescentes debates sobre o dia das mães, dos pais e das avós. Muita gente argumenta que as festas fomentam o trauma das crianças, porque constroem a ideia de um modelo de pai e mãe para famílias cada vez mais plurais. Justo. Outro argumento também bastante plausível é que mães e pais trabalham em tempo integral em muitas das famílias e as tais festas tem lugar em dias e horários proibitivos. Por fim, há ainda um argumento que fala sobre a ausência paterna/materna, seja por falecimento ou abandono.Agora vamos lá, por partes, como pretendia Jack, ao argumento número 1. Falando sobre abandono, é possível entender que, de modo algum tal ausência seria compensada pela supressão da festa. Ao contrário. Ele perpetua em festinhas de aniversário, encontros, formaturas, apresentações de dança... A eliminação de uma festa não resolve um problema que é o abandono... Na urgência de minorar o sofrimento totalmente justificado de nossos meninos estamos excluindo o pipoqueiro, quando o problema não é a pipoca. Não eliminaremos o trauma de crianças com a eliminação de uma festa, mas com a criação de filhos mais sensíveis à família (qualquer que seja ela), que se tornarão pais presentes e que, independente da dissolução do casamento, continuarão participando da criação dos filhos. Não só no dia dos pais. Mas em todos os dias. O texto já está grande, mas ainda sobra tempo para pensar que a eliminação da festa das mães também não criará meninos e meninas mais tolerantes. Será a ideia de que o lugar de mãe pode ser ocupado por tias, tios, avós, pais e todo aquele que ocupar tal lugar afetivo. E por que não chamar avós, tios etc., para a festa das mães (e dos pais) e fazer também uma grande festa da família, com tios e primos e amigos que participam dessa família? Aliás, por que afinal estamos nos preocupando com as festas e não com a criação dos meninos nos outros 364 dias do ano? Seria por medo de reconhecer nossas falhas, admitir nossa intolerância com outros modelos de família e relacionamentos além de nossa curta compreensão? Por que se chegarmos a esse ponto entenderemos finalmente que crianças podem sim ser criadas por mães e pais, casais de mães, casais de pais, avós e tios e amigos e todos aqueles que se responsabilizarem permanentemente por esses meninos? Aí ficará fácil entender que a festa das mães pode ter mães e pais e tios. Porque homenageia as mães de filhos de suas próprias barrigas. E de outras barrigas. E as pessoas, de todos os sexos, gêneros, identidades, identificações, que também exercem sua maternidade com muita coragem em um país onde ainda usamos a expressão "mãe solteira" e exaltamos os pais/mães e companheiros (as) que se relacionam com mulheres/homens com filhos, como se fosse o extraordinário e não o cotidiano entre adultos. Relações vêm e vão. Transformam-se. Filhos são permanentes...Na pressa de reconhecer o óbvio, que é o fato de que somos (e sempre fomos)uma sociedade muito diferente do que pensou por certo tempo a publicidade e na pressa de mudar, jogamos fora a pipoca e o pipoqueiro, sem pensar onde está verdadeiramente o problema. E se me permitem uma digressão pessoal, fui "mãe solteira”, divorciada e assim, “fora do padrão" nessa mesma sociedade...Sofri por não estar presente em festas das mães que aconteciam no horário de trabalho. Já frequentei aniversários em que eu era o objeto de curiosidade, seja pela idade ou pelo estado civil...Ser mãe (da própria barriga ou não)não é tarefa para principiantes...Vez por outra fraquejamos. É justo que tenhamos um dia pra receber um beijo, uma colher de pau(precisamos problematizar os presentes de dia das mães,urgente!),um pano dar prato, um desenho tosquinho, que guardaremos para todo o sempre e exibiremos diante de namorados, amigos e afins( para desespero total da cria, diga-se de passagem ). Também é justo que todo aquele que se reconhecer como mãe possa receber tal homenagem. Necessário que cada mãe e pai (qualquer que seja sua forma de exercê-la, desde que com afeto) entenda que seu lugar de maternidade não está somente vinculado à genética(não basta ser tem que participar) e que, tomara Deus, possamos ter muitas festas das mães,pais,avós com referências cada vez mais múltiplas,sensíveis,inclusivas... Feliz dia dos pais a todos aqueles que se identificarem com o título . Bom restinho de domingo