sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Trapézios

Que os monstros dos mares do agora, não turvem nossa visão e a cegueira do momento não limite nosso olhar para dentro de tudo. De tudo que mereça nosso movimento nos encaixes de se saber encontro sempre.Encontro nos momentos de escuta, encontro nos momentos de fala.Encontro de se reconhecer eixo de pés fincados nas areias de seu espaço.Onde latitude e longitude se reinventam para abençoar o nascer da estrela.Estrela feita de vida, construída no suor dos corpos que buscam a liberdade, que respira sonho e vive na fé do que não se pode saber.Saber não é nada frente a expansão do sentir .Sentir outro, sentir ontem, sentir presente na grandiosidade frágil da imaginação.Sou o que imagino e imagino galáxias no infinito da musica que não para de preencher o meio.Meio feito de nós, meio feito de historias e falas que me conduzem ao lugar do intuir vida .Vida que pulsa nas esquinas que não posso ignorar.Não há potencia na utilidade sem verdade.Não há horizonte no caminho que se apequena no medo de não ser.Seja, seja e se reinvente no trilho do eu dentro de si.Nas entrelinhas das engrenagens enferrujadas, descrentes de se poder transmutar a vida em seu estado poético, o espaço se confunde com o tempo do respirar útil.Estagnada num espiral de expansão com o mundo mas sem sintonia com a respiração de seu ritmo.Ritmo de saias rodadas e sorrisos largos, ritmo de silêncios no compasso da escuta do mundo e das imagens do nós.Dentro de si cabe o mundo, com seus conflitos , dores, alegrias, vozes,cores...Mas e no mundo,cabe a si?Transborda o eu na entrega da vida farta.Vida feita de água, na condição sutil de ser fluida, nas correntezas do sentimento expandido pala alem de si e dentro de tudo. Impregna de sentido o nascer de outro lugar.Lugar de dialogo com o tempo, que se reinventa na estrutura do que nunca se foi, mas sempre se é.e será para sempre. O eu que habita em mim por Debora Restum Porque no fundo era fácil, o tempo todo... Era quase como subir um trapézio, degrau a degrau, sem pensar, que lá embaixo, o público esperava um movimento arriscado. No fundo, tu sabias que não havia caminho distinto do que subir a escada, pé ante pé, esquecendo o burburinho das pessoas, que, aos cochichos, pediam que não subisse, que não subisse mais, que ficasse aqui só mais um pouco, onde era confortável e calmo. Mas era ali, no desconhecido intervalo entre um degrau e outro que o pulsar da vida, entre sangue e suor, existia. E nunca antes houve dúvida. O caminho era esse. Nas tardes de leitura, no virar das páginas, nas frases que te machucavam desde sempre, na emoção de ouvir a palavra que entrava pelos ouvidos e ia alcançar a ponta das tuas mãos... Enquanto vai te tornando mais e mais surda ao que te sussurram, agarras com força a corda da escada, que balança perigosamente, no vento...e sobe ainda mais alto, até os rostos familiares se tornarem um borrão difuso e só sobrar no peito a voz de tua mãe, no chão da sala, te contando da vida dos homens e o som da voz do teu pai, no fim do dia, na beira da tua cama, e apresentando as histórias dos livros. Nunca houve outro caminho, nem poderia haver. Enquanto buscavas terras distantes, de amores e saberes, aqui dentro, teu mundo restava, enorme. O tempo todo a escada, no centro do picadeiro, estava ali, para que subisses. E tu atrasastes a hora, rondando o lugar, fazendo de conta que não era contigo... Enquanto fechavas tuas próprias histórias em um baú dentro do peito, percorrias com os olhos as palavras de outros, se perdia e se encontrava. E aí foram os anos. Muitos de não contar... Enquanto isso, a vida. O doar-se para o outro, o aprendizado doloroso do sofrimento. E hoje, quando tudo te diz não, passados quase 4 décadas de vida, percebe que nunca houve outro caminho... Em silêncio pede licença. Se afasta de todos...fica só. Percorre o lento caminho até o centro do palco. Mãos firmes, sobe o primeiro passo, esperando cair. Os pés e equilibram. A cada momento, tens vontade de voltar. Mas sabes que não há caminho de volta. Alguém te chama. Não voltas o rosto. Persegue algo que não consegues ver. Sente. As vozes ficam mais baixas, viram um confuso burburinho. Pouco a pouco, o sentido da subida, o próximo degrau, torna-se difuso. Só sabes que precisa ir. Ainda e sempre. E então, num intervalo de silêncio, alcanças o topo. Uma pequena plataforma de madeira, no canto esquerdo do picadeiro. Só há espaço para os teus pés. Contemplas lá de cima teu universo, o percurso de cada dia... Alguém grita seu nome, pede que tenha cuidado. Afinal. Não há rede de proteção. tu apenas sorri. e mergulha. Por Tatiane Mendes

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Palavras..

Há um silêncio que só se ouve quando se está só e as palavras escondidas nas páginas de um livro vem dançar na tua cabeça. Enquanto tentas ter controle da leitura e pousar superficialmente em cada frase, elas vão pouco a pouco se inserindo em teu pensamento, captando tua atenção. Mesmo que busques mecanismos de desvio, observando a paisagem ou voltando os olhos em outra direção, elas permanecem ali, em estado de vigília, propondo combinações em versos e prosa. E então, enquanto estás distraído, elas entram, sorrateiramente, pela tua orelha, penetrando tua mente, acomodando-se em tuas memórias, revirando-as sem dó...E é ali, quando menos se espera que elas te prendem, corpo e alma, oferecendo frases e demandando tua atenção. Sem se dar conta, de repente, o silêncio se faz e as palavras, que estavam impressas em tuas mãos, mergulham em ti... Pronto. Já não te pertences mais. Estás preso, ao ritmo imprevisível dos versos, na desarmonia das estrofes, aguardando a próxima linha. Enquanto viras a página, não respiras mais. És todo expectativa e tensão. E então, ali, logo no alto da página, a primeira palavra estende as mãos... E o sentido, como mágica, se faz. Em vão baterão à porta, não atenderás ao telefone... O tempo, nesse momento, acabou de paralisar. Seus olhos, grudados no papel, percorrem as letras, em ritmo frenético... E do silêncio retumbante que se faz, o único ruído divergente é o leve som das páginas, que moves impaciente... É preciso que esse livro acabe – pensas- é preciso logo, pois enquanto ele durar, não és mais dono de ti... O que te move, que te faz respirar, é a poesia indefinível que repousa entre os versos, que te carrega como um vento forte, fazendo com que esqueças de tudo mais. E assim, página a página, frase a frase, intercalas impaciência e plenitude.. Tu só existes no intervalo entre capítulos. E então, na última página, quando ergues os olhos do livro, percebes que o sol se pôs, que as cortinas da janela voaram e as folhas se espalharam no quintal... O quarto está escuro, nada se move. Mas ali, dentro do teu peito as palavras ainda pulsam...e o silêncio, enorme, te preenche e aquece. És outro. Infinitamente maior... Nas tuas mãos, o livro fechado adormece, até o próximo leitor.