terça-feira, 28 de novembro de 2017

memória,chuva e viagens no tempo

Há quem diga que os afetos são coisa dos sensíveis, gente muito louca e sonhadora.Eu, modestamente, penso que lhes cabe parte fundamental do humano,uma vez que somos e não podemos deixar de ser, seres simbólicos por natureza ou (in)felicidade..Assim, persiste no que somos uma mistura de cheiros e sons, de palavras e músicas que entranham na carne e, por vezes,nos movem de lugar,propondo verdadeiras viagens no tempo...A ideia nao é nova e foi suficientemente bem observada por gente boa como Bergson e que tais, para eu me dar o direito de somente flanar superficialmente pelas ideias. Sobretudo,quando a memória atravessa a rua, chega até você. Sem avisar,no meio do caos do centro do Rio,entre poças de água e sons de carros,um perfume me levou ate Santa Teresa, na casa da minha avó, com o barulho suave dos passos no piso de madeira, na modorra familiar do pós-almoço..A tv ligada solitariamente na sala e o sol de um dia cinza criavam sombras da parede de pedra e o vento que empurrava as cortinas para fora.Enquanto eu esperava a hora de subir a rua e comprar o pão, sentia o aroma cítrico do pós-barba do meu tio,saído do banho,msiturado ao feijão e arroz que rescendia na mesa e ao aroma da terra molhada das plantas da minha avó..Era o mesmo cheiro das idas ao cinema nos sábados, ou das vezes em que ele chegava do trabalho,recebia o meu invariável bilhetinho,pedindo pra ser acordada(me parecia uma magia incomparável,acordar no meio da madrugada)por ele e dar um oi antes de voltar a dormir.. Enquanto ouço o alarme do relógio da minha avó tocar,um ruído atravessa a sala.O freio do ônibus na rua ao lado.Estou de volta à Rua Presidente Vargas, na chuva,em um novembro igualmente cinzento,mas sem as memoóias afetivas da minha infância.