quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
Palavras..
Há um silêncio que só se ouve quando se está só e as palavras escondidas nas páginas de um livro vem dançar na tua cabeça.
Enquanto tentas ter controle da leitura e pousar superficialmente em cada frase, elas vão pouco a pouco se inserindo em teu pensamento, captando tua atenção.
Mesmo que busques mecanismos de desvio, observando a paisagem ou voltando os olhos em outra direção, elas permanecem ali, em estado de vigília, propondo combinações em versos e prosa.
E então, enquanto estás distraído, elas entram, sorrateiramente, pela tua orelha, penetrando tua mente, acomodando-se em tuas memórias, revirando-as sem dó...E é ali, quando menos se espera que elas te prendem, corpo e alma, oferecendo frases e demandando tua atenção.
Sem se dar conta, de repente, o silêncio se faz e as palavras, que estavam impressas em tuas mãos, mergulham em ti...
Pronto. Já não te pertences mais. Estás preso, ao ritmo imprevisível dos versos, na desarmonia das estrofes, aguardando a próxima linha.
Enquanto viras a página, não respiras mais.
És todo expectativa e tensão.
E então, ali, logo no alto da página, a primeira palavra estende as mãos...
E o sentido, como mágica, se faz.
Em vão baterão à porta, não atenderás ao telefone...
O tempo, nesse momento, acabou de paralisar. Seus olhos, grudados no papel, percorrem as letras, em ritmo frenético...
E do silêncio retumbante que se faz, o único ruído divergente é o leve som das páginas, que moves impaciente...
É preciso que esse livro acabe – pensas- é preciso logo, pois enquanto ele durar, não és mais dono de ti...
O que te move, que te faz respirar, é a poesia indefinível que repousa entre os versos, que te carrega como um vento forte, fazendo com que esqueças de tudo mais.
E assim, página a página, frase a frase, intercalas impaciência e plenitude..
Tu só existes no intervalo entre capítulos. E então, na última página, quando ergues os olhos do livro, percebes que o sol se pôs, que as cortinas da janela voaram e as folhas se espalharam no quintal...
O quarto está escuro, nada se move. Mas ali, dentro do teu peito as palavras ainda pulsam...e o silêncio, enorme, te preenche e aquece. És outro. Infinitamente maior...
Nas tuas mãos, o livro fechado adormece, até o próximo leitor.
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